domingo, 21 de março de 2010

Menino no semáforo

Todos os dias quando vou trabalhar, encontro uma criança no semáforo. A mesma criança. Há quatro anos, a mesma cena. Ele, no início, de tão pequeno, não conseguia falar direito. As poucas palavras que conseguia dizer, revelavam que ele estava a pedir alguma coisa. Só não o encontro, quando estou de férias. Mas ele não tira férias, todos os dias ele está ali, faça chuva, faça sol.


Hoje, tal menino deve ter uns 08 anos de idade. Veja bem, então quando o conheci, ele teria em torno de quatro anos. O que o leitor fazia com quatro anos? O que seu filho fez, faz ou fará quando tiver quatro anos?

Aquele menino recebe um abraço ou um beijo dos pais dele? Ele tem uma cama para dormir? Ele tem casa? Ele frequenta a escola? Ele se alimenta de quê? Quando foi ao médico?

Somos indiferentes, na maioria das vezes. É muito raro fazermos alguma coisa por alguém, de forma mais séria e eficiente. De vez e, quando acordamos e botamos a boca no mundo.

De quem é a responsabilidade? Por que aquela criança não é amparada por alguém? Primeiramente, porque a família perdeu seus valores. Amar, respeitar, cuidar, são verbos cada vez mais raros. Quando mais baixa a classe, em regra, mais crítica é a situação. Aquela criança, juntamente com milhares de mendigos que convivem nas ruas da mais antiga capital do Brasil, que vivem em estado deplorável, revelam um modelo ultrapassado de administrar, de orientar, de prevenir, de legislar.

São vários atores que influenciam neste resultado, a sociedade civil, o governo, as instituições, etc. Somente quando somos vítimas de algum roubo, furto, assassinato é que pensamos na origem dos problemas. Não seria melhor um trabalho preventivo?

Caro leitor, diga sinceramente o que você acha que aquele garoto descrito acima, será quando crescer, caso não entre nas raríssimas exceções? O Estado, a União, o município o abandonam na infância e o abandonarão na adolescência.

Agora entenda a lógica: o que Estado fará com este garoto, quando ele começar a praticar os atos consequentes da lógica da vida que terá levado? Irá prendê-lo, matá-lo!!!!

E as pessoas que passavam e viam aquele garoto e nada fizeram? Pela lógica, serão assaltadas, assassinadas, sequestradas. O pior não é só isso. Quem fez alguma coisa, também será vítima.

O estado do mal-estar social em que vivemos, é tão grave que a tendência é a sociedade se auto-destruir. Já somos reféns. Ou ficamos detidos em casa ou saímos com medo. Os organismos estatais não conseguem garantir os direitos básicos do cidadão.

Não se obedece, de forma eficaz, a dinâmica prevenir, combater e punir. Assim, viveremos em constante desequilíbrio, numa sociedade desigual e individualista, aprendendo a conviver com as mazelas que ajudamos a construir.